Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra... mas desde o princípio alguma coisa - fados, astros, sinas, quem saberá? - conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois... para nao sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, se querer justifica-los - ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem?

23.12.06

I Need You Tonight - INXS

I need you tonight, cause I'm not sleeping...

17.12.06

A Ilha

Foi mais uma noite mal dormida. Há muito tempo dormia sem sono, inquieta, a escuridão a ameaçava. O peso da solidão, mais evidente à noite, chacoalhava sua mente, roubando o conforto da cama, o amparo da introspecção, que costumava ser seu único refúgio quando tudo começou. Não suportava mais a inércia dos objetos do quarto, a paz atestada nas pequenas coisas, o silêncio ensurdecedor se torcendo diante de seus pensamentos cada vez mais desamparados.

Enfim, cinco horas. Saltou da cama aliviada, tomou o café, comeu os restos do jantar e o mais rápido que pôde, já estava na areia, andando a passos largos. O vento revoava o vestido e os cabelos crespos desgrenhados, presos na tiara de couro. Era teimosamente bonita, sem vaidades, embora, agora, fosse uma beleza ressecada, abatida. Há quanto tempo não se olhava no espelho?

Há muito havia se desligado de si, vivia alheia a sua própria existência, sem vontades.
Subiu o difícil caminho de pedras, que levava ao ponto onde se podia ter a melhor visão do mar.

Era o que fazia todas as manhãs, até o sol chegar ao pico. Sentava-se e esperava, paciente, com o olhar distante e o pensamento já perdido. Na verdade não tinha esperanças de que o marido realmente voltasse. Mas, ainda assim, todos os dias cumpria esse ritual. Ás vezes mais doído, quando avistava ao longe um marido que não o seu, e testemunhava a alegria que tantas vezes já havia provado, de receber novamente o seu homem, que chegava depois da pesca de semanas, meses. Que ia sem saber se voltava, deixando o vazio, a esperança. E trazendo a maior alegria do mundo quando chegava.

Mas o marido não ia voltar. Há muito tempo havia partido, e agora não podia mais esperar. Relutava por aceitar o fato, tão difícil era abrir mão da esperança, dos dias vividos antecipadamente e aceitar a estranheza do infeliz abstrato. Estava entregue, com dor maior a cada dia.

E era tão sozinha. Não tinha mais ninguém que realmente amasse dentre as poucas pessoas daquela ilha, de somente algumas famílias, isoladas. Os dois viviam juntos há tanto tempo, fechados na existência um do outro, como todos os casais da ilha. Não haviam tido filhos, mas foram marido e mulher perfeitos. Ele fora um bom marido. Embora não fosse carinhoso, às vezes, com remorso por alguma rispidez ou por alguma alegria repentina tentasse realmente ser amável. Mas só tateava nessas gentilezas, pois não faziam parte de sua natureza. Era homem quieto, sério, severo, de passado sofrido, o que era para eles, louvável característica de um homem respeitável.

Assim, partia dele o silêncio e a impessoalidade que imperavam na casa e nela, conseqüentemente. Era calada, cordata, sem exigir quase nada do marido e da vida. O fato de ele ser distante nunca chegou a ser para ela uma situação. Sequer tinha qualquer imagem de um outro tipo de vida que ambicionasse. Orgulhava-se da vida estável e digna que haviam construído. A resignação era tão forte que não havia tédio. Viviam os dias de forma igual, numa realidade plana e feliz que se passava como uma corrente ininterrupta repleta de tarefas e obrigações. Como deveria ser. Limitados por aquela pequena ilha, viviam sob constante ameaça e dependência direta da sua natureza, tão viva e exuberante. Ela era a personagem principal da vida de todos, a provedora, mas também a que impunha os maiores limites.

O tempo passavademoradamente, estavam alheios ao mundo, à evolução de um modo geral. A luta pela sobrevivência era a única importância que imperava. E bastava. Viviam a vida que Deus quis”. Os homens ali eram crus, modestos, de uma simplicidade coerente ao exílio do mundo, secos, lutadores, assim como ela. Pertencia àquela ilha, àquela casa, ao ciclo irremediável da natureza. Esse era seu papel.

Aos poucos tentava renunciar ao pensamento do marido e viver partindo de si própria agora, sem o coração dolorido por um dia ao menos. Mas lhe custava adaptar-se a essa nova realidade. Não falava com pessoa alguma sobre ele, e estas tampouco se empenhavam em ajudá-la. Para eles, vivia um problema freqüente, ela era uma a mais, pouco para motivar alguma compaixão significativa naquela gente.

Vivia devagar, a seu modo. Os dias eram todos infinitos espaços de tempo a serem preenchidos como quisesse, com tarefas domésticas a maior parte do dia e uma ou outra distração, como costurar e jogar cartas com as vizinhas. Mas tudo parecia pesadamente igual, os dias cheios de obrigações que, aos poucos, foram se tornando absolutamente dispensáveis. Não podia ser útil só para ela mesma. Sentia-se cada vez mais sem função, à medida que aos poucos deixava de pensar tanto no marido. A sua figura vinha às vezes, em sobressalto, lhe cortando o coração. Mas estes pensamentos foram se espaçando e, a cada dia, sentia-se um pouco mais disposta. A tristeza foi aos poucos deixando seus olhos. Estes tinham de repente um certo viço, uma vivacidade inédita.

Tomada pelo choque da nova condição, foi perdendo aos poucos a antiga visão da vida que levava e da vida em si. A falta do marido a abortou do mundo, de suas bases, da lógica de tudo. O olhar firme, seguro do marido lhe parecia agora tão míope. Nunca a seu lado, amparada por sua segurança, permitiria ver-se tomada por tantas vontades. E se por acaso isso acontecesse, nunca, jamais conseguiria fazê-lo.

E assim, realmente foi mudando. Falava muito, dava gargalhadas. Passara a dormir melhor e em pouco tempo dormia muito, freqüentemente se levantava já com o sol alto. Aos poucos, também deixara de subir as pedras todos os dias. A casa, não mais cheirava a ocre, a seu fumo. Tinha agora um cheiro de frutas, de flores, de liberdade. Escutava música alta durante o dia, cantava enquanto cozinhava ou limpava a casa. Mas também foi gradualmente deixando de se ocupar dessas coisas como regras, limpava e cozinhava sem qualquer regularidade. Tomava demorados banhos de mar, fazia fogueiras à noite na beira da praia e conversava até a madrugada com os pescadores. Certamente, isso tudo criava grande alarde entre os habitantes da ilha. Sobre ela, eram todos os boatos, dizia-se que havia perdido completamente a razão com a recente perda do marido. Mas era a mais popular porque era a mais temida, a mais bonita, a mais invejada.

Deliciava-se com a alegria plástica da vida. Alegria que antes lhe parecia tão extravagante. Sentia agora uma estranha liberdade, sabia realmente que podia viver por si mesma. Era completamente tomada por uma grande e ininterrupta leveza, uma alegria pesadamente óbvia. Sentia que havia incorporado uma lucidez que não lhe cabia.

Em alguma parte sentia-se injustiçada, por essa nova pessoa que, de repente, havia se tornado. Negando tudo que sempre considerou, traindo tão profundamente suas raízes. Mas sabia que não estaria sendo franca consigo mesma se não aceitasse sua nova condição, recém-nascida do mundo. Sufocava-lhe a imagem da mulher submissa, compreensiva, útil que fora, e como isso agora lhe figurava uma agressividade consigo mesma. Sabia que no fundo estava grávida desse renascimento há muito tempo, mas faltara-lhe até então uma ruptura, um algo grave que a obrigasse sair dela mesma. Vivia feliz como nunca antes havia sido, a ilha lhe parecia demasiadamente pequena.

Um dia, porém, das pedras, avistou o barco do marido. Estremeceu, seu corpo inteiro palpitava. Não podia assimilar a figura daquele homem, o seu homem. Sua chegada surpreendente após tanto tempo, a violava, era tão incongruente que por um longo momento ficou imobilizada, atônita. Enquanto ele aos poucos ancorava seu velho barco, como sempre fazia, sentia em si lampejos da velha mulher que fora, tomada por um contentamento independente dela mesma. Mas acalmou-se logo em seguida, pois o que realmente lhe saltava no peito não era amor por aquele homem, mas compaixão. Uma piedade franca, porém totalmente fraterna. E em seguida, deu-lhe as costas.

(Laís Alcantara/ outubro de 2000)
Erasure Revisited - A Little Respect

A little sth to make sweeter...

11.12.06

Transformações (Uma fábula)


Feito, febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todo as os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se mais ficaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisas assim.Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir -, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro de que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de ; A Grande Falta.Era translúcida e gelada. Tivesse olhos, seriam certamente verdes, com remotas pupilas. À beira da praia certa vez encontrara um caco de garrafa tão burilado pelas ondas, areias e ventos que cintilavam o sol, pequena jóia vadia. Apertou-o entre os dedos, sentindo um frio anestésico que o impedia de perceber as gostas de sangue brotando mornas da palma da mão. Era assim A grande Falta. Pudessem vê-lo, pudesse ver-se, veriam também o sangue, ele e os outros. Acontece que tornava-se invisível nesses dias. Olhando-se ao espelho, sabia de imediato que estava dentro Dela. No vidro, além dele mesmo, localizava apenas um claro reflexo "avermelhado".Ela estava tão dentro dele quanto ele dentro Dela. Intrincados, a ponto de um tornar-se ao mesmo tempo fundo e superfície do outro. Amenizavam-se às vezes no decorrer do cair da noite surpreendê-lo nítido, passado a limpo, passado a ferro. Então sorria, dava telefonemas, cantava ou ia ao cinema, mas em outras vezes, adensava-se feito céu cada vez mais escuro, turvo agitado subindo do fundo, vidro bafejado. Sem dormir, fosforescia entre os lençóis ouvindo os ruídos da madrugada chegarem como abafados por uma grossa camada de algodão. Dissipava-se ou concentrava-se na manhã seguinte, mas apenas uma fluida e mansa continuação sem solavancos.Seu maior medo era o destemor que sentia. Íntegro, sem mágoas nem carências ou expectativas. Inteiro, sem memória nem fantasias. Mesmo o não-medo sequer sentia, pois não-dar-certo era o natural das coisas serem, imodificáveis, irredutíveis a qualquer tipo de esforço. Fosse íntimo das águas ou dos ares, teria quem sabe par6ametros para compreender esse quieto deslizar de peixe, ave. Criatura da terra, seu temor era quem sabe perder o apoio dos pés. E criatura do fogo. A Grande Falta crepitava em chamas dentro dele.

Sua invisibilidade no entanto não o invisibilizava: encadernava-o meticulosa em um determinado corpo e uma voz particular e uns gestos habituais e alguns trejeitos e pessoas que, aparentemente, eram ele mesmo. Por isso não é verdade que não o veriam. Veriam e viam, sim, aquela casca reproduzindo com perfeição o externo dele. Tão perfeito que nem ao menos provocava suspeitas aumentando as pausas entre as palavras, demorando o olhar, relentando o passo daquele falso corpo. Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. Debaixo da terra, fogo- fátuo soterrado tão profundamente que a pele nem reluzia.Alguma coisa que jamais teria, e tão consciente estava dessa para sempre aus6encia que, por paradoxal que pareça, era completo nesse estado de carência plena. Isso acontecia apenas quando dentro Dela, pois ao desembarcar, em vez de sorrir ou fazer coisas, freqüentemente limitava-se a chorar penoso como se apenas a dor fosse capaz de devolvê-lo ao estágio anterior. A dor desconsolada e inconsolável, em soluços que o sacudia cada vez mais fortemente , a cada um deles partindo-se a casca, quebramdo-se a moldura, rachando-se o vidro, apagando-se o fogo.Como uma espécie de felicidade, esse desembaraçar-se de uma também felicidade. (.....), chafurdava em emoções; tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamurientas, bebia para despertar fantasias distraídos, relia ou escrevi cartas apaixonadas, trasbordantes em rosas e abismos. Exausto, então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos, por vezes - quando o ensaio geral das emoções artificialmente provocadas(mas que um dia, em outro plano, aquele da terra onde, supunha, gostava de pisar, aconteceriam realmente) não era superfície - povoado com répteis frios, a tentar enlaçá-lo com tentáculos pegajosos e "castanhos" olhos de pupilas verticais.Não saberia dizer com certeza como nem quando aconteceu. Mas um dia - um certo dia, um dia qualquer, um dia banal - deu-se conta que. Não, realmente não saberia dizer ao menos do que se dera-se conta. Mas foi assim.[...]Foi um dia movimentado aquele. Sua casca partia-se e refazia-se, entardecer sombrio e meio-dia cegante intercalados. Fumou demais, sem terminar nenhum cigarro. Bebeu muitos cafés, deixando restos no fundo das xícaras. Exaltou-se , ausentou-se . no intervalo da ausência, distraia-se em chamá-la também, entre susto e fascínio, de A Grande Indiferença, ou A Grande Partida, ou A Grande , ou A, ou. Na tentativa ou esperança, quem saberia, de conseguindo nomeá-la conseguir também controlá-la.Não conseguiu. Desimportou-se com aquilo. Tomado a intervalos pelo anônimo, atravessou a tarde, varou a noite, entrou madrugada adentro para encontrar a manhã seguinte, e outra tarde, e outra noite ainda, e nova madrugada, e assim por diante. Durante anos. Até as têmporas ficarem grisalhas...

Caio Fernando de Abreu
The Cure - Boys Don't Cry


"I try to laugh about it
Cover it all up with lies
I try to
Laugh about it
Hiding the tears in my eyes
'cause boys don't cry
Boys don't cry"

10.12.06

A Serenata

(Adélia Prado)

noite de lua pálida e gerânios ele viria
com boca e mãos incríveistocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desesperoe só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo o que não for natal como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Carta Anônima

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você.

Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar.

Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas.

Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.

Caio Fernando Abreu

3.12.06

Placebo - Peeping Tom

"Careful not to fall
Have to climb your wall
'Cause you're the one who makes me feel much taller than youare
I'm just a peeping tom
On my own for far too long
Problems with the blues nothing left to loose

I'm weightless
I'm bare
I'm faithless
I'm scared"

*Cenas do filme Un año sin amor (2004)
Dirección: Anahi Berneri

Narra la vida de un joven escritor enfermo de sida, que pelea día a día contra su enfermedad. En esa batalla se introduce en prácticas sadomasoquistas, para a través del goce del dolor encontrar la fuerza para seguir viviendo y tratar de encontrar un amor verdadero.